quarta-feira, 17 de março de 2010

E agora, José?


JOSÉ
Carlos Drummond de Andrade

E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José ?

e agora, você ?

você que é sem nome,

que zomba dos outros,

você que faz versos,

que ama protesta,

e agora, José ?



Está sem mulher,

está sem discurso,

está sem carinho,

já não pode beber,

já não pode fumar,

cuspir já não pode,

a noite esfriou,

o dia não veio,

o bonde não veio,

o riso não veio,

não veio a utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, José ?



E agora, José ?

Sua doce palavra,

seu instante de febre,

sua gula e jejum,

sua biblioteca,

sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

sua incoerência,

seu ódio - e agora ?



Com a chave na mão

quer abrir a porta,

não existe porta;

quer morrer no mar,

mas o mar secou;

quer ir para Minas,

Minas não há mais.

José, e agora ?



Se você gritasse,

se você gemesse,

se você tocasse

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse…

Mas você não morre,

você é duro, José !



Sozinho no escuro

qual bicho-do-mato,

sem teogonia,

sem parede nua

para se encostar,

sem cavalo preto

que fuja a galope,

você marcha, José !

José, pra onde ?


A dúvida insiste... persiste...


Às vezes eu me pergunto o que é pior: não fazer idéia de quem você é ou o contrário. O auto-conhecimento pode ser uma faca de dois gumes. Quando você acaba por se descobrir múltiplo... o que fazer?

Embora esteja me descobrindo (verdade... eu ainda me surpreendo muitas vezes...) embora ainda esteja me descobrindo, já reconheci e aceitei tanta coisa sobre mim mesmo que estou meio perdido. Eu vou me explicar.

Para deixar bem claro: QUEM SOU? Sou homem. Brasileiro. Trintão. Trabalhador. Cristão. Universitário. Estou noivo. Irmão. Amigo. Indeciso. Tolerante. Teimoso. E, como nossas preferências dizem muito a respeito de nós, GOSTO DE: Minha noiva. Minha Família. Meus amigos. Seriados de televisão. Big Brother Brasil. Alguns desenhos. Ler. Estudar. Música erudita. Tíbia. Twitter. Falar. Ouvir. Trabalhar. Estudar a Bíblia. Fazer o que é correto.

Sabe... são gostos um pouco antagônicos... e eu fico meio perdido no meio das exigências... Sim... eu escolho gostar de algumas coisas e, com isso, surgem as exigências...


Quer exemplos: a religião, para não se tornar hipocrisia, exige uma entrega total sua. Ser cristão não é somente um título ou característica. É um estilo de vida. Cristo precisa ser tudo em sua vida, pois do contrário Ele não será nada. Isso não implica em fanatismo... apenas sinceridade de comportamento. Coerência.

Por outro lado, o trabalho também exige que você dê o seu melhor. Eu gosto do que faço. E o meu local de trabalho é o lugar que passo a maior parte do meu dia (da minha vida). Conheço as exigências que são feitas a mim e quero sempre estar à altura do que me é proposto. Adoro desafios. E é difícil descansar antes de encontrar as soluções possíveis. Não dar o seu melhor no trabalho é correr o risc de ser taxado de preguiçoso, incompetente, desinteressado e perder promoções e melhores remunerações.

Ao mesmo tempo, que relacionamento afetivo consegue sobreviver sem que você se dedique a ele? Nesse ponto preciso agradecer muito a minha noiva Késia. Ela é compreensiva (na maioria das vezes). Mas amar uma pessoa exige que sacrifícios sejam feitos. O amor precisa ser cultivado para poder crescer a cada dia. A pessoa amada deve ser cuidada. Os bons momentos juntos, multiplicados. É necessário se superar a cada dia.

Da mesma forma, o ambiente universitário é extremamente exigente. Os professores traçam alvos para seus aprendizes que só podem ser satisfatoriamente alcançados se os alunos dedicarem o seu melhor em cada atividade proposta. Não estão errados os professores. Não... O sucesso ou fracasso do futuro profissional está sendo esboçado pelo aluno na sala de aula e nas suas pesquisas. Força de vontade é o mínimo necessário para que você consiga extrair o melhor que cada professor/disciplina/livro tem a oferecer. Dedicação. Tempo...

Além de tudo isso... você ainda precisa de tempo para você mesmo... Tempo para se divertir. Tempo... Jogos viciam... Seriados viciam... BBB vicia... Tudo aquilo que distrai e diverte acaba tirando energia das outras áreas que também estão exigindo muito de você.

E no meio disso tudo, eu me pergunto: "E agora, José?" O que você vai fazer enquanto a luz não se apagou e a festa não acabou? Você consegue fazer o melhor em cada uma das áreas da sua vida? E "fazer o melhor" é diferente de "fazer o suficiente".

É necessário optar? Escolhas... escolhas são necessárias?

Escolhas são necessárias.

Os planos são traçados levando em consideração um juízo de valores que cada pessoa faz. Elej ao que é o mais importante para você e aja de forma a demonstrar o quanto isso é importante na sua vida. Mas não se esqueça: você é um pouco de cada... quem te conhece apenas em um desses aspectos de sua vida, não te conhece por inteiro. Conhece facetas... não conhece o ser. Então não caia na mesma armadilha: não negue quem você é. Dedique-se àquilo que você considera essencial... mas não abandone os outros "vocês". Esquecer-se de quem você é, não é viver... nem sobreviver... é apenas sofrer por nunca se sentir inteiro.

E agora? Bom... agora que estamos no mundo, só nos resta viver!

Que venha a vida!

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